Projeção ao ar livre, em Covas do Barroso, na antestreia do filme “A Savana e a Montanha”

Nesta quinta-feira, dia 15 de agosto, foi projetado para centenas de pessoas, na Quinta do Cruzeiro em Covas do Barroso, a antestreia do filme “A Savana e a Montanha”, uma longa-metragem que retrata a luta da população de Covas do Barroso contra a exploração de Lítio no seu território.

A “Savana e a Montanha” retrata a história da luta da população de Covas do Barroso contra a implementação de uma mina de lítio na região, considerada Património Mundial Agrícola pela FAO. No filme a população une-se para defender o seu território e a sua cultura.

Covas do Barroso é uma freguesia do município de Boticas cujos habitantes estão contra a exploração de lítio e outros minerais a céu aberto. O projeto da mina, promovido pela empresa Savannah Lithium, Lda, ficará situado em área das freguesias de Dornelas e Covas do Barroso.

O Vice-Presidente da Câmara Municipal de Boticas, Guilherme Pires em declarações ao Canal Alto Tâmega, afirma sentir orgulho e “acredito que o povo de Boticas também sinta esse orgulho, cada vez mais, temos que divulgar o nome Boticas. Em termos culturais, nós somos conhecidos pela boa gastronomia, pelas boas paisagens, efetivamente, cada vez mais, Boticas é um centro de cultura e nós fazemos de tudo para que seja cada vez mais divulgado.”.

O realizador do filme, Paulo Carneiro falou com o Canal Alto Tâmega acerca deste projeto, ““A Savana e a Montanha” é uma longa-metragem de ficção, um “western”, porque há um “piscar de olhos” ao género, que também incorpora um musical e acaba por ser uma ficção, que fala um pouco desta luta do povo de Covas do Barroso contra uma ideia, que existe já há algum tempo, da construção de uma mina de lítio, aqui no território, que seria, se viesse a acontecer, esperemos que não e o filme é um manifesto contra isso, a maior mina da Europa. O filme trata isto, o ponto de vista da população, que se organiza para combater este mal, que é uma luta de secretaria, uma empresa que no filme acaba por ser “invisível”, por vontade do realizador, em mostrar uma luta contra um inimigo invisível.”

Em relação à antestreia, Paulo Carneiro realça a importância de regressar a Covas do Barroso, “é um voltar à origem para poder mostrar o filme junto da população e algumas das pessoas que aparecem no filme e é um bocado a ideia da descentralização, porque parece que de repente, um filme só tem voz, corpo ou ganha uma mediatização quando é mostrado na capital e eu acho que o mais importante era conseguir voltar a Covas do Barroso, mostrar o filme às pessoas que, efetivamente, tiveram uma ação nele e que ajudaram na construção do filme.”.

Um projeto com alguns anos de trabalho, que para Paulo serviu como forma de ajuda à população de Covas do Barroso, “A produção do filme começa em 2021, com uma ideia muito vaga. Durante a pandemia, eu tinha um outro projeto, que estava um bocado parado e vim a Covas do Barroso, tentei perceber de que forma eu podia ajudar a população, enquanto realizador, de que forma é que eu posso fazer ecoar a minha voz e o meu gesto de cinema. Começamos a vir a Covas do Barroso para filmar uns pequenos vídeos para a internet para poder ajudar a difundir a voz das pessoas aqui de Covas, sendo uma aldeia pequena, em Trás-os-Montes, interior do país."

Abordado em relação ao financiamento do projeto, Paulo Carneiro afirma que o filme contou com o apoio da “Câmara Municipal de Boticas e da Agência do Cinema e Audiovisual do Uruguai, é uma coprodução entre Portugal e Uruguai, sendo que não teve qualquer tipo de apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) em Portugal, acabou por ter o apoio da RTP, sendo que foi um prémio que o filme teve já na fase de montagem.”.

Retornando a 18 de maio, data da exibição do filme no Théàtre Croisette, em Cannes, no Festival de Cannes, o realizador lisboeta, assume, “o que aconteceu em Cannes é um abrir em grande ao mundo e dar voz ao que se passa aqui. Em relação ao próprio filme, o que traz Cannes, é que o filme terá estreia mundial em vários países, estreia comercial em cinemas, sendo que já garantimos Espanha, França, Uruguai, Argentina e um ou dois territórios a mais.”.

Saindo da ficção e retornando para a realidade, Paulo aponta para os resultados deste projeto, “já há alguns benefícios, é como eu costumo dizer, não existe só um filme, existe todo um trabalho antes de um filme, existem estes vídeos musicais, já houve outro tipo de iniciativas, houve uma exposição muito grande na Galeria Municipal do Porto, acaba sempre por haver um contributo financeiro aqui e ali. Agora diretamente, acho que dá visibilidade àquilo que se passa e a esta luta, indiretamente, certamente sim.”.

Texto: Diogo Batista

Fotos: CM Boticas


16/08/2024

Sociedade