“Toda a gente pode ter dias maus menos o treinador”

Gabriel Peixoto, de 29 anos, foi o convidado do programa Linha Lateral da Rádio Alto Tâmega FM. É treinador do Vidago Futebol Clube, uma das equipas mais acarinhadas da região e a vencedora da primeira edição da Liga de Prata da Associação de Futebol de Vila Real (AFVR).

Gabriel Peixoto começou como jogador, a sua paixão, e só mais tarde, em 2021, assumiu o comando técnico de uma equipa sénior de futebol. Concluiu este ano, a terceira temporada como treinador de um clube da distrital da AFVR. Depois de passagens pelo Cumieira e pelo Sabroso, ‘Gabi’ fez história no Vidago, ao vencer a primeira edição da Liga de Prata da Associação de Futebol de Vila Real (AFVR). Um novo modelo que dividiu a primeira fase do campeonato num formato de duas séries e a segunda fase em (Liga Ouro e Liga Prata). Inicialmente a Liga de Ouro não era o principal objetivo do clube, mas a ambição dos vidaguenses foi maior.

“Foi uma época que demos um passo em frente porque voltamos a ter uma coisa que se tinha perdido um bocadinho no clube, que era a mentalidade ganhadora. Somamos vitórias atrás de vitórias, sempre resultados positivos. Ainda não perdemos este ano, são indicadores muito positivos”, disse Gabriel Peixoto no programa Linha Lateral da Rádio Alto Tâmega FM.

O técnico de 29 anos assumiu que inicialmente nunca foi exigida a luta pela Liga de Ouro, mas que acabou por ser o objetivo principal da equipa sénior. Não alcançado, mas trabalhado até porque a formação da vila termal ficou a um ponto de disputar esta Liga. O “clube, nunca nos exigiu a Liga de Ouro principalmente quando saíram as séries porque passavam três e nós, claramente em termos orçamentais em comparação com o Pedras, o Chaves e o Régua, era uma batalha injusta ainda assim, depois de conseguirmos estabilizar, termos o nosso grupo e percebermos que tínhamos até alguma capacidade e possibilidade de alcançarmos esses três primeiros lugares definimos, equipa técnica e equipa, que o nosso objetivo era passar à Liga de Ouro foi por um ponto. (…) Bastava não termos sofrido um dos dois golos que sofremos com o Pedras em cima dos 90 minutos para podermos passar, mas o futebol é isto. É um pouco ingrato, mas é isto que é a beleza do jogo. Acabamos por vencer a Liga de Prata não era o nosso objetivo, mas acabou por ser o mal menor e por ser um prémio para todos por todo o trabalho”, frisou.

CAMPEÕES DA LIGA PRATA 2023/2024

No primeiro ano em que o formato da prova do campeonato distrital da AFVR foi alterado, o Vidago Futebol Clube orgulha-se de juntar aos 75 anos de história mais uma narrativa que demonstra a “união do grupo”. Na primeira fase, o Vidago FC competiu na série A ao lado de equipas como o Chaves B, SC Régua e Juventude de Pedras Salgadas. Ficou a um ponto da passagem à Liga de Ouro. Na segunda fase em 12 jornadas não teve nenhuma derrota. Venceu 11 jogos e empatou um.

“Foi um golpe duro para nós não ir à Liga de Ouro, mas unimo-nos à volta do objetivo e provarmos que o nosso lugar é lá em cima. Foi um título bastante saboroso, uma prova da união do grupo. Tivemos muitos jogadores abordados para sair, e conseguimos ficar com todos.  Aqueles que abandonaram foi por motivo profissional e isso também, foi uma mensagem interna de que nós temos a capacidade de dar esse passo em frente na próxima época”, assegurou o técnico dos ‘conquistadores’.

Falar deste formato de prova é conversa repetida para este jovem treinador que considera ser necessário “dar tempo ao tempo” e avaliar internamente as vantagens e desvantagens deste modelo.

“Penso que os resultados práticos destas mudanças nunca podem ser vistos no imediato. Penso que devemos dar tempo ao tempo. Agora para os clubes, em termos financeiros, e treinadores é lógico que na minha opinião vem prejudicar um bocadinho aquilo que é o nosso trabalho. Olhando na perspetiva dos clubes que foram à Liga de Ouro, e nos adeptos que assistiram aos jogos [desta liga], e até para a preparação da equipa que sobe, o mais fácil era criticar e dizer que não presta e não vejo nenhum benefício nisso, mas no meu caso vi algumas situações que são prejudiciais para o clube por outro lado nem 8 nem 80. Se calhar um modelo alterando algumas situações como por exemplo, irem mais equipas à Liga de Ouro ou dar outro objetivo a quem vai à Liga de Prata talvez com algumas mudanças pudéssemos assistir a uma competição que vem beneficiar toda a gente”, salienta o jovem treinador, natural de Vila Real.

“HÁ CLUBES QUE ESTÃO UM ANO INTEIRO SEM LUTAR POR NADA”

O facto de não haver descidas torna o campeonato “muito menos competitivo”, diz Gabi. “Há duas ou três equipas, que à partida lutam pelo campeonato depois, há um segundo objetivo que diria que é a Taça de Portugal e depois, não há mais nada. Ou seja, há clubes que estão um ano inteiro sem lutar por nada e para mim é o principal fator dessa dificuldade de decidir se é uma série, se são duas séries se é campeonato corrido se não é”, revelou.

Com o SC Régua vencedor do campeonato, o técnico não tem dúvidas que o clube depois destes 10 jogos da Liga de Ouro, “o SC Régua está muito mais preparado para aquilo que será o campeonato de Portugal, mas é só um clube em 18. Penso que a Associação deve tirar as suas ilações, deve ouvir os clubes e perceber a nível financeiro aquilo que foi a repercussão e como foi essa gestão”, embora na perspetiva do adepto, o técnico Gabriel Peixoto entenda que possa haver algum interesse neste formato a duas séries.

Com este ou outro modelo de futebol no distrito, há que preparar a próxima época. E na hora de saber se é Gabriel Peixoto quem poderemos ver no comando técnico do Vidago, não restam dúvidas da sua vontade. “Espero que sim!”. A resposta é imediata assim como a noção da competitividade que vai encontrar.

“ACHO QUE A PRÓXIMA ÉPOCA VAI SER MUITO INTERESSANTE DE SE ACOMPANHAR. VÁRIAS EQUIPAS COM HISTÓRIA”.

“Não sabemos aquilo que as outras equipas vão fazer agora, a perspetiva é essa, termos aqui um campeonato com várias equipas ambiciosas que vão seguramente tentar fazer plantéis e ‘apetrechar-se’ de jogadores que lhes permitam lutar. Sem dúvida que o Montalegre entrando pelo historial recente deles, são muitos anos numa divisão que é praticamente profissional, penso que a ideia é para manter e que eles também vão tentar ser profissionais este ano e dentro dessa forma é um ponto de interesse. Queremos jogar contra os melhores e é lógico que para o Montalegre e Vilar de Perdizes é uma situação chata descer de divisão, é logico que também foram investimentos grandes e muitos anos num campeonato superior agora para nós acaba por ser bom porque vem dar outra visibilidade ao nosso campeonato”, acabou por dizer Gabriel Peixoto à Rádio Alto Tâmega FM. Nunca teve num contexto profissional nem como jogador nem treinador. Gosta mais de jogar futebol do que treinar, mas tem bem ciente da importância da figura do treinador, da capacidade de liderança, do conhecimento técnico e tático e da gestão de um grupo de pessoas. “Toda a gente pode ter dias maus menos o treinador”.

Texto: Sara Esteves

Foto: Márcio Pires


12/06/2024

Desporto