Autarcas não se reveem no novo modelo e defendem uma Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega e Barroso

O Presidente de Boticas e de Chaves mostram-se preocupados quanto à dimensão territorial do novo modelo de Unidade Local de Saúde (ULS) que poderá vir a acentuar “desigualdades” no acesso à saúde da população do Alto Tâmega e Barroso. Entretanto, mais autarcas estão contra este modelo e defendem a criação da Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega e Barroso.

A nova reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que prevê a criação de 31 Unidades Locais de Saúde (ULS), que se juntam às oito já existentes, já a partir de janeiro de 2024, está a causar preocupação aos autarcas da região do Alto Tâmega e Barroso, que agrega os concelhos de Boticas, Chaves, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar.

Estas ULS vão englobar todos os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), que são mais de 40, grande parte das funções das cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS) e os cinco hospitais do setor público administrativo. Um modelo, que segundo os autarcas vai criar “ainda mais desigualdades” no acesso à saúde.

A nova Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro, com sede em Vila Real, será criada por integração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que agrega os hospitais de Vila Real, Chaves e Lamego, os Agrupamentos de Centros de Saúde do Alto Tâmega e Barroso, do Douro I – Marão e Douro Norte e do Douro II – Douro Sul.

“O que nos preocupa na reforma não é tanto o modelo da ULS, é a forma como esta ULS está a ser preconizada para todo este território. Estamos a falar de uma extensão muito significativa de 150 quilómetros de distância, de mais de duas horas entre os dois pontos mais distantes (o concelho de São João da Pesqueira do concelho de Montalegre), e de 270 mil habitantes porventura, a maior ULS do país em termos territoriais” que pode levar a “incongruência de centralização, má disponibilização de serviços, sobretudo nas unidades de periferia”, aponta o Presidente da Câmara Municipal de Chaves.

Nuno Vaz fala numa preocupação de dimensão territorial que poderá vir a “acentuar aquilo que é um histórico de desconfiança, de prejuízo para as populações do Alto Tâmega, que já aconteceu com a integração no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro” em fevereiro de 2007. O autarca socialista recorda ainda que, além de os municípios e comunidades intermunicipais não terem sido consultadas “não há evidências” quanto às vantagens destes e outros modelos. “O último estudo publicado de 2015, da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), não mostra certezas sobre o ponto de vista da gestão nem, sobre o ponto de vista das respostas na saúde e o que nos parece é que, foi interpretado este modelo como sendo o mais adequado, e temos muitas dúvidas”.

Também o autarca de Boticas aponta esta nova reforma como “mais uma calinada” do Governo que “emite uma legislação sem discutir com os municípios”. Fernando Queiroga admite ter pensado que a pandemia tinha “ensinado alguma coisa”, dada a parceria entre municípios e profissionais de saúde ter sido “muito boa”.

“TEMO QUE DAQUI POR UNS ANOS, O CENTRO DE SAÚDE DE BOTICAS FECHE”

Segundo o Governo, o novo modelo de “ULS 2.0” vai permitir “melhorar o acesso e diminuir a burocracia, facilitando o percurso dos utentes e dos doentes dentro do SNS”. Para os autarcas há muitas dúvidas quanto a essas vantagens. “Tentam-nos iludir com a falta de médicos nos Centros de Saúde dizendo que serão retirados do hospital para os cuidados primários. Sabemos que isso nunca vai acontecer, e que será o contrário”, afirma o social-democrata que receia que o Centro de Saúde de Boticas venha a encerrar portas. “Estão a descuidar os cuidados primários para centralizar tudo. Temo que daqui por uns anos, o nosso centro de saúde feche”, revela com descontentamento e indignação quanto ao sistema de financiamento em função das doenças e do PIB [Produto Interno Bruto] per capita. “Mais uma machadada para que estes territórios deixem de existir e as pessoas saiam daqui porque infelizmente o nosso PIB per capita é muito reduzido”.

O decreto-lei que procede à criação das Unidade Local de Saúde prevê um máximo de seis vogais executivos, incluindo até dois diretores-clínicos, um enfermeiro-diretor, um vogal proposto pelo Governo e um vogal proposto pela Comunidade Intermunicipal, que passará a ser indicado pelas duas Comunidades Intermunicipais: do Douro, com 19 municípios, e do Alto Tâmega e Barroso, com seis.

Fernando Queiroga não tem dúvidas que “quem terá mais votos provavelmente será do Douro. Não é que eu não me sinto representado mas se calhar, não tem conhecimento de causa desta nossa realidade. São estas coisas feitas atamancadas, em cima do joelho, que este Governo do Partido Socialista faz com dinheiros públicos, mas a prejudicar a população”. Já o autarca de Chaves explica que este vogal que será indicado pelas duas CIM`S “não terá capacidade de fazer a diferença”. Nuno Vaz revela que “poderá naturalmente ser uma voz da população, expressar as suas preocupações e contribuir para decisões mais consistentes mas a verdade é que, não terá a capacidade de fazer a diferença”. A intenção do autarca flaviense é que seja designada a pessoa “mais capaz, mais preparada, com mais conhecimento e mais vocacionada para discutir as questões de saúde numa lógica da dimensão territorial”.

 

AUTARCAS DEFENDEM UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DO ALTO TÂMEGA E BARROSO

Os seis municípios do Alto Tâmega e Barroso defendem, “de forma unânime”, a proposta de criação de uma Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega, envolvendo o Hospital Distrital de Chaves e os sete Centros de Saúde do Alto Tâmega.

Numa moção aprovada a 26 de setembro e divulgada dois dias depois, a Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega e Barroso (CIMAT) assegura que desde a integração no CHTMAD, em 2007, que o nível de prestação de cuidados de saúde “diminuiu, de forma acentuada”, a par do número de profissionais de saúde no Hospital de Chaves, gerando “uma crescente insatisfação” dos utentes do SNS no Alto Tâmega.

Face à constatação da “degradação dos serviços de saúde”, foi aprovada, em 2011, pela Assembleia da República, a Resolução que recomendava ao Governo, a criação da “Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega” que “após mais de uma década da sua aprovação, os sucessivos Governos liderados pelo Partido Socialista (PS) e Partido Social Democrata (PSD) não seguiram as recomendações da Resolução da Assembleia da República, mantendo até hoje o modelo aprovado em 2007”, lê-se no texto da moção da CIMAT.

Assim e face ao modelo de organização previsto no diploma que constitui “de difícil aplicabilidade, em função da elevada amplitude territorial, existindo, por outro lado, um risco claro de excessiva centralização assistencial na sede da ULS, Vila Real, em função do histórico anterior de integração”, a CIMAT reitera, “de forma clara e inequívoca”, a Criação da Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega e Barroso, “em linha com a Resolução aprovada pela Assembleia da República” e apela ao Governo e à Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde para adotar “medidas urgentes e imediatas” para “ultrapassar os reiterados problemas ao nível do serviço de urgência da Unidade Hospitalar de Chaves, designadamente na especialidade de Pediatria”.

Na moção aprovada, os seis autarcas da região solicitam à Assembleia da República uma visita à Unidade Hospitalar de Chaves do CHTMAD para “constatar, no local, a atual situação desta Unidade de Saúde”.

Também a Assembleia Municipal de Chaves aprovou na quinta feira, 27 de setembro, uma moção, proposta pelo PS, em defesa da criação da Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega e Barroso, alertando para uma “excessiva centralização assistencial” na prevista ULS, sediada em Vila Real. A proposta contou com votos a favor do PSD (com duas abstenções), também os votos a favor do CDS-PP e um voto contra da CDU.

Sara Esteves


28/09/2023

Sociedade